Desafios e oportunidades para as “startups verdes” no mercado pós-pandemia
A pandemia do coronavírus trouxe desafios, mas também oportunidades para as cleantechs na oferta de soluções sustentáveis que gerem economia e impactem nos custos fixos na retomada pós-Covid-19.
Publicado em 02 ago 2020
A pandemia do coronavírus trouxe desafios para os empreendedores de todo o mundo. E no Brasil, não é diferente. Os reflexos econômicos impactaram vendas, receitas e processos. Quem resistiu e não fechou as portas, foca em se reinventar, na adoção de medidas para recuperação das perdas e na busca por soluções criativas e inovadoras que ajudem na retomada de suas atividades.
Neste cenário, as chamadas “startups verdes” ou cleantechs encontram-se simultaneamente em dois extremos e se veem diante de pelo menos dois desafios. De um lado, como outras empresas, também sofreram os reflexos da pandemia e passam também por revisão de prioridades e adaptações ao “novo normal” do mundo dos negócios – o que inclui, por exemplo, a troca da sede própria pelo trabalho remoto e a redução no quadro de pessoal.
Mas no outro extremo do cenário, as cleantechs estão entre aquelas que podem fornecer o que os setores da indústria, comércio, agricultura e serviços precisam: soluções de maior custo-benefício e que gerem maior eficiência, sustentabilidade e economia para que a recuperação financeira possa ocorrer de forma mais rápida e assim seja possível estancar os prejuízos decorrentes da pandemia do coronavírus.
Oportunidades para as cleantechs
A tendência é do trabalho das startups ganharem maior visibilidade por causa de sua característica principal – focar em resolver problemas – ser de grande valia para o momento que vivemos. Existem muitos exemplos de empresas de tecnologia que já desenvolveram soluções e foram também para a linha de frente da pandemia, seja na produção de EPIs com maior agilidade, seja fornecendo aplicativos para monitoramento e identificação de pessoas contagiadas pelo coronavírus.
No caso das cleantechs, o foco está em atender a nova realidade e propor o que trará benefícios para as empresas, principalmente em relação aos seus custos fixos. É o caso dos projetos relacionados ao uso de energia. Soluções como uso de energias renováveis, com Energia Solar e Energia Eólica, pode ser um item importante na estratégia de gerar economia, começando pela conta de luz.
O mesmo vale para o armazenamento de energia. Propor soluções que tornem o uso de energia mais racional também pode fazer com que a empresa / cliente reduza suas despesas sem perder sua eficiência nem sua competitividade.
No setor de transporte, a contribuição das cleantechs para o mercado pós-pandemia pode se dar numa avaliação da rotina para que a atividade seja adequada aos novos tempos. Ou seja, a solução pode ajudar a otimizar e racionalizar a entrega de mercadorias. O uso de soluções para melhor gerenciamento pode transformar o setor de transportes, gerando economia sem perder a eficiência nem prazos de entrega. Com isso, pode-se rever as rotas e reduzir custos com combustível, pessoal e manutenção da frota, que sempre pesam no orçamento.
Importante destacar que o trabalho das “startups verdes” relacionadas ao novo cenário pós-Covid-19 alcança diferentes objetivos. Ajuda diretamente na economia e na saúde financeira da empresa com a otimização de processos e recursos, mas não deixa de também contribuir para que a empresa tenha foco na sustentabilidade ao adotar práticas que favorecem ao meio ambiente.
Retomada verde
Além das demandas do dia a dia de muitas empresas em busca de recuperação, as oportunidades pós-pandemia para as cleantechs podem vir também da necessidade da construção de um futuro mais sustentável e inclusivo. O estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e Organização Internacional do Trabalho (OIT), de 29 de julho de 2020 aponta nesta direção e destaca haver uma “transição para uma economia com zero emissões líquidas de carbono poderia criar 15 milhões de novos empregos líquidos na América Latina e no Caribe até 2030”.
Zerar as emissões significa alcançar um equilíbrio nas emissões globais de gases de efeito estufa (GEE) causadas pela atividade humana com a remoção do carbono. Nesta transição, por um lado, com mais “soluções verdes” no setor elétrico baseado em combustíveis fósseis, na extração de combustíveis fósseis e na produção de alimentos de origem animal, haveria uma redução nas vagas em 7,5 milhões. Mas por outro, segundo o estudo, 22,5 milhões de empregos seriam criados nos setores de agricultura e produção de alimentos baseados em plantas, eletricidade renovável, silvicultura, construção e manufatura.
O BID e a OIT incluem no estudo um plano para a geração dos empregos. Destaque para as políticas públicas que facilitem a realocação de trabalhadores e trabalhadoras, promovam o trabalho decente nas zonas rurais, ofereçam novos modelos de negócios e melhorem a proteção social e o apoio às pessoas, comunidades e empresas. Além disso, o estudo defende o diálogo social entre iniciativa privada, sindicatos e governos em torno de uma estratégia de longo prazo para alcançar zero emissões líquidas de carbono com geração de empregos, redução da desigualdade e em sintonia com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Manifesto
No cenário macro de perspectivas pós-pandemia para as “startups verdes”, à proposta do BID e da OIT de uma economia com zero emissões líquidas de carbono, soma-se o manifesto “Uma convergência necessária: por uma economia de baixo carbono”. Trata-se de uma documento assinado por ex-ministros brasileiros da área econômica “em torno de uma agenda que nos possibilita retomar as atividades econômicas, endereçar os problemas sociais e, simultaneamente, construir uma economia mais resiliente ao lidar com os riscos climáticos e suas implicações para o Brasil”.
Com destaque para quatro pontos (alcançar a economia de baixo carbono; zerar o desmatamento na Amazônia e no Cerrado; aumentar a resiliência climática; e impulsionar a pesquisa e o desenvolvimento de novas tecnologias), o manifesto tem o objetivo de defender que “critérios de redução das emissões e do estoque de gases de efeito estufa na atmosfera, e de resiliência aos impactos da mudança do clima sejam integrados à gestão da política econômica”. Os economistas afirmam que a recuperação pós-pandemia oferece oportunidades importantes para a promoção da economia de baixo carbono e sustentável num cenário de transformações.
“O Brasil tem evidentes vantagens como economia de baixo carbono, dada a composição de sua matriz energética, a abundante radiação solar, agricultura pujante produtora de vultosas quantidades de biomassa, recursos hídricos e florestas extensas e biodiversas”, aponta o documento. Por causa disso, prosseguem os ex-ministros, “é do interesse do país estar entre os líderes da transição para uma economia mundial carbono-neutra”.
Dicas para mapear oportunidades
Para as cleantechs, além da rotina de monitoramento do mercado, a ideia é acompanhar iniciativas que possam ajudar em insights para soluções relacionadas ao impacto da pandemia nos negócios. A seguir, destacamos duas delas: a InovAtiva Conecta e o Data Sebrae.
InovAtiva Conecta: Covid-19
O InovAtiva Brasil, considerado o maior programa de aceleração de startups da América Latina, criou o InovAtiva Conecta: Covid-19.
Trata-se de uma parceria com a ABStartups em que são realizados demodays semanais com o objetivo de reunir soluções de startups voltadas para o combate e a redução dos impactos da Covid-19. O foco são as áreas da saúde e as Micro e Pequenas Empresas. As soluções são apresentadas para instituições públicas, como os ministérios da Saúde, da Economia e de Ciência e Tecnologia, além do BNDES, Embrapii, Finep, ABDI, Banco do Brasil. Investidores e empresas interessadas também fazem parte do projeto.
Além disso, a InovAtiva Brasil também montou uma página agregadora em seu site para reunir conteúdos específicos sobre projetos relacionados à Covid-19. A página traz notícias sobre recursos e investidores, chamadas para financiamentos e uma curadoria de soluções e eventos.
A InovAtiva Brasil é uma realização da Secretaria Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade do Ministério da Economia e do Sebrae, com execução da Fundação CERTI.
Data Sebrae
O Sebrae desenvolveu uma plataforma para reunir dados e informações de referência sobre a Covid-19 e seus reflexos econômicos nas Micro e Pequenas Empresas. Trata-se do Data Sebrae.
A plataforma reunião um amplo volume de estudos, pesquisas e materiais de referência que ajudam a compreender o cenário atual da economia, em especial dos pequenos negócios. Mas além disso, o Data Sebrae fornece ainda dados estratégicos para quem busca fontes para novas ideias.
A plataforma mantém um painel interativo, atualizado diariamente, que mostram a evolução dos números sobre a vulnerabilidade dos negócios de acordo com o tipo de negócio, com o setor econômico e com os ramos de atividade. Para facilitar, os dados, reunidos a partir da base da Receita Federal, podem ser exibidos de modo segmentado por estado e por município.
Com o Data Sebrae, portanto, pode-se ter um mapa de onde há maior demanda por soluções.
Confira em https://datasebrae.com.br/covid